É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. (Clarice Lispector)
Nada mais sou que um canal / Seria verde se fosse o caso / Mas estão mortas todas as esperanças / Sou um canal /Sabem vocês o que é ser um canal? /Apenas um canal?
Evidentemente um canal tem as suas nervuras / As suas nebulosidades / As suas algas / Nereidazinhas verdes, às vezes amarelas / Mas por favor / Não pensem que estou pretendendo falar / Em bandeiras / Isso não
Gosto de bandeiras alastradas ao vento / Bandeiras de navio / As ruas são as mesmas. / O asfalto com os mesmos buracos, / Os inferninhos acesos, / O que está acontecendo?
Gosto de bandeiras alastradas ao vento / Bandeiras de navio / As ruas são as mesmas. / O asfalto com os mesmos buracos, / Os inferninhos acesos, / O que está acontecendo? / É verdade que está ventando noroeste, / Há garotos nos bares / Há, não sei mais o que há. / Digamos que seja a lua nova /Que seja esta plantinha voacejando na minha frente.
Lembranças dos meus amigos que morreram / Lembranças de todas as coisas ocorridas / Há coisas no ar... / Digamos que seja a lua nova / iluminando o canal / Seria verde se fosse o caso / Mas estão mortas todas as esperanças/ Sou um canal.
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''Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.'' (Frida Kahlo)
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê! (Florbela)
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